Local: Centro Cultural Justiça Federal Avenida Rio Branco, 241 Centro - Rio de Janeiro.
Visitação: de 10 de novembro de 2017 a 7 de janeiro de 2018, de terça-feira a domingo, de 12h às 19h.
Informações: (21) 3261-2550 / www.ccjf.trf2.jus.br / Entrada grátis.
Fragmento da Paisagem - 2007 FOTO: Edite Coelho
Nesta mostra o visitante poderá estabelecer o contato visual com as obras, como também sensorial. Serão expostas obras em dois espaços: Despertando os sentidos da visão e do tato.
A mostra atende também ao visitante com deficiências visuais.
PAISAGENS PARA TOCAR
A milenar arte do mosaico e o tradicional
gênero da paisagem são ressignificados no contexto contemporâneo pela artista
Moema Branquinho.
O primeiro escrito sobre pintura
de paisagem data do século IV na China: “Introdução à pintura de paisagem” de
Zong Bing. Partindo da filosofia taoísta, tinha o caráter de materialização de
relações espirituais ligadas simbolicamente à natureza. Na Europa medieval, a admiração
da “paisagem” era então reprimida como prazer mundano, enquanto há muito já
vinha sendo valorizada no Oriente.
O período do Renascimento marca o
início da paisagem enquanto gênero pictórico ocidental, com a invenção técnica
da representação espacial perspectivada. Inaugura-se assim o primado do ponto
de vista relacional entre aquele que vê, o que é visto e o que é dado ao
espectador ver. A paisagem é, portanto, uma construção arbitrária, uma invenção
de linguagem, já que os seus limites, ordenações de planos de distância e
ângulo de visão são escolhidos e calculados por um sujeito em relação ao
ambiente que lhe é pré-existente e externo, mas do qual ele é parte. Segundo
Anne Cauquelin, “a imagem, construída sobre a ilusão da perspectiva,
confunde-se com aquilo de que ela seria a imagem”, estabelecendo uma ordem da
equivalência entre um artifício e a natureza.
O trabalho de Moema Branquinho
propõe desconstruções dessa tradição ocidental da paisagem, ao trazer o tato
como estratégia condutora de sua investigação na arte musiva. Suas paisagens se
dão à proximidade do toque no lugar do distanciamento do olhar. O próprio
mosaico opera como reversão dessa ordem visual hierarquizada, pois nele os
diferentes fragmentos são unidos no conjunto, sem perda de sua identidade
unitária (tessela). Característica que é reforçada pela pesquisa de materiais, incorporando
vidros, pedras, cerâmica, metais, madeira, entre outros. Em
alguns momentos, a matéria trans-borda os limites de janelas e quadrantes que
podemos interpretar como quadros e olhos herdados da alma renascentista. Essas
rupturas a levam investigar suportes em relevo e esculturas para as superfícies
de mosaicos, radicalizando em tridimensionalidade as formas onduladas que
caracterizam sua produção.
Assim como os pintores
impressionistas, a percepção da paisagem por Moema é de movimento e flutuação
da luz, deslocando-se através da janela do trem. A paisagem com sombras
fugazes, águas correntes, árvores balançando ao vento, uma paisagem-tempo que
carrega a longínqua centelha oriental. O mosaico oferece contrastes de quentes
e frios não apenas nas cores, mas também na temperatura física dos materiais,
mesmo nas peças acromáticas, com brancos e cinzas.
Efeitos de luz são pesquisados nos
materiais transparentes, translúcidos, opacos, brilhantes ou foscos, alterações
de luz incidente ou contraluz. A obra se quer dinâmica como o conceito de
paisagem proposto, e o mosaico lhe oferece a coerência material.
A artista investiga a “visão” dos
cegos, que tateia e percebe por partes, percorrendo as formas, relevos e
texturas. Essa lógica está contida não apenas na possibilidade de fruição do
mosaico, como no seu processo de criação. Moema propõe ao público experiências
de percursos táteis ou a revelação visual por partes, com iluminação móvel de
pequenas áreas contíguas através de lanternas. E não seria esse o fundamento
operatório da paisagem como linguagem, por recortes da realidade do ambiente,
por fragmentação em vistas? Por outro lado, a proposta da fruição da paisagem
pelo tato convoca o público à descoberta de suas paisagens interiores, ativando
a imaginação e a memória, colocando-se como “obra aberta”.
As paisagens do Rio de Janeiro,
cidade da artista, inspiram as linhas e superfícies onduladastão presentes no
seu imaginário, bem como afirmam a relação de integração da natureza na
paisagem urbana, com sua imponência peculiar. Numa profusão de linhas
orgânicas, o trabalho de Moema Branquinho agrega sentidos, visões, toques,
materiais, técnicas com carga histórica e inclusão de públicos como as pessoas
cegas. A paisagem seria então essa argamassa que une as
diferenças, na textura do tecido urbano carioca emoldurado pela água e montanha
– elementos básicos da pintura de paisagem chinesa (sanshui), a convocar o
corpo ativo, afetivo e imaginativo a ela pertencente, através das
possibilidades do mosaico.
Renata Wilner (Docente
pesquisadora da UFPE)
São Paulo, outubro de 2017
CONTATO: 021
993421772 - mbranquinhomosaico@yahoo.com.br
www.
mosaico-contemporaneo.blogspot.com
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