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20.11.17

Exposição "Paisagem Sensorial - uma linguagem expressiva" no Centro Cultural Justiça Federal

Exposição: "Paisagem Sensorial - uma linguagem expressiva" - Moema Branquinho


Local: Centro Cultural Justiça Federal Avenida Rio Branco, 241 Centro - Rio de Janeiro.

Visitação: de 10 de novembro de 2017 a 7 de janeiro de 2018, de terça-feira a domingo, de 12h às 19h.

Informações: (21) 3261-2550 / www.ccjf.trf2.jus.br / Entrada grátis.





Na exposição a artista exibe obras bidimensionais e tridimensionais utilizando diferentes materiais como vidro, mármore, granito, metal, madeira entre outros. Sendo apresentado no conceito do mosaico, ou seja, técnica mista. Seus quadros, objetos e esculturas compõem subjetividades em torno do tema da paisagem.


                                                                      Fragmento da Paisagem - 2007       FOTO: Edite Coelho  




Nesta mostra o visitante poderá estabelecer o contato visual com as obras, como também sensorial. Serão expostas obras em dois espaços: Despertando os sentidos da visão e do tato. 

A mostra atende também ao visitante com deficiências visuais.

                                                                                        "Quatro pedras dentro d'água" - 1991 -  Paris - FOTO: Edite Coelho



                                                                  Paisagem sensorial - painéis em baixo relevo - sala escura - FOTO: Edite Coelho





PAISAGENS PARA TOCAR

A milenar arte do mosaico e o tradicional gênero da paisagem são ressignificados no contexto contemporâneo pela artista Moema Branquinho.

O primeiro escrito sobre pintura de paisagem data do século IV na China: “Introdução à pintura de paisagem” de Zong Bing. Partindo da filosofia taoísta, tinha o caráter de materialização de relações espirituais ligadas simbolicamente à natureza. Na Europa medieval, a admiração da “paisagem” era então reprimida como prazer mundano, enquanto há muito já vinha sendo valorizada no Oriente.

O período do Renascimento marca o início da paisagem enquanto gênero pictórico ocidental, com a invenção técnica da representação espacial perspectivada. Inaugura-se assim o primado do ponto de vista relacional entre aquele que vê, o que é visto e o que é dado ao espectador ver. A paisagem é, portanto, uma construção arbitrária, uma invenção de linguagem, já que os seus limites, ordenações de planos de distância e ângulo de visão são escolhidos e calculados por um sujeito em relação ao ambiente que lhe é pré-existente e externo, mas do qual ele é parte. Segundo Anne Cauquelin, “a imagem, construída sobre a ilusão da perspectiva, confunde-se com aquilo de que ela seria a imagem”, estabelecendo uma ordem da equivalência entre um artifício e a natureza.

O trabalho de Moema Branquinho propõe desconstruções dessa tradição ocidental da paisagem, ao trazer o tato como estratégia condutora de sua investigação na arte musiva. Suas paisagens se dão à proximidade do toque no lugar do distanciamento do olhar. O próprio mosaico opera como reversão dessa ordem visual hierarquizada, pois nele os diferentes fragmentos são unidos no conjunto, sem perda de sua identidade unitária (tessela). Característica que é reforçada pela pesquisa de materiais, incorporando vidros, pedras, cerâmica, metais, madeira, entre outros. Em alguns momentos, a matéria trans-borda os limites de janelas e quadrantes que podemos interpretar como quadros e olhos herdados da alma renascentista. Essas rupturas a levam investigar suportes em relevo e esculturas para as superfícies de mosaicos, radicalizando em tridimensionalidade as formas onduladas que caracterizam sua produção.

Assim como os pintores impressionistas, a percepção da paisagem por Moema é de movimento e flutuação da luz, deslocando-se através da janela do trem. A paisagem com sombras fugazes, águas correntes, árvores balançando ao vento, uma paisagem-tempo que carrega a longínqua centelha oriental. O mosaico oferece contrastes de quentes e frios não apenas nas cores, mas também na temperatura física dos materiais, mesmo nas peças acromáticas, com brancos e cinzas.

Efeitos de luz são pesquisados nos materiais transparentes, translúcidos, opacos, brilhantes ou foscos, alterações de luz incidente ou contraluz. A obra se quer dinâmica como o conceito de paisagem proposto, e o mosaico lhe oferece a coerência material.

A artista investiga a “visão” dos cegos, que tateia e percebe por partes, percorrendo as formas, relevos e texturas. Essa lógica está contida não apenas na possibilidade de fruição do mosaico, como no seu processo de criação. Moema propõe ao público experiências de percursos táteis ou a revelação visual por partes, com iluminação móvel de pequenas áreas contíguas através de lanternas. E não seria esse o fundamento operatório da paisagem como linguagem, por recortes da realidade do ambiente, por fragmentação em vistas? Por outro lado, a proposta da fruição da paisagem pelo tato convoca o público à descoberta de suas paisagens interiores, ativando a imaginação e a memória, colocando-se como “obra aberta”.

As paisagens do Rio de Janeiro, cidade da artista, inspiram as linhas e superfícies onduladastão presentes no seu imaginário, bem como afirmam a relação de integração da natureza na paisagem urbana, com sua imponência peculiar. Numa profusão de linhas orgânicas, o trabalho de Moema Branquinho agrega sentidos, visões, toques, materiais, técnicas com carga histórica e inclusão de públicos como as pessoas cegas. A paisagem seria então essa argamassa que une as diferenças, na textura do tecido urbano carioca emoldurado pela água e montanha – elementos básicos da pintura de paisagem chinesa (sanshui), a convocar o corpo ativo, afetivo e imaginativo a ela pertencente, através das possibilidades do mosaico.

                                                                                  Renata Wilner (Docente pesquisadora da UFPE)

                                                                                                                    São Paulo, outubro de 2017





CONTATO: 021 993421772 - mbranquinhomosaico@yahoo.com.br 
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